Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, no encalço. Amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. G. Rosa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sobre a infância e juventude excluída

O trabalho (quase impossível) de educar é algo tão emaranhado, tão cheio de desconstruir mitos e preconceitos (inclusive de outros educadores), é tão sutilmente condicionado a não acontecer... Ser educador, hoje, é quase uma guerrilha cultural, enfrentamento direto com as velharias que nos enfiaram goela abaixo por séculos e séculos, e que inclusive quem sofre a repressão ideológica dos dominantes, custa a entender.

Minha volta ao trabalho na Fundação de Proteção Especial traz outra vez os choques com aqueles que deveriam ter uma passagem provisória nos abrigos, e no entanto terminam por viver a parte grande de suas infâncias e adolescências em instituições.

Na Fundação de Proteção, herdeira da antiga FEBEM mas que se dedica ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de abandono e/ou de risco, cerca de 40 abrigos atendem de 14 a 18 abrigados. De acordo com a determinação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) são abrigados juntos crianças e adolescentes, portadores de necessidades especiais, bebês, usuários de drogas em tentativa de recuperação, adolescentes que cumprem medidas por atos infracionais em meio aberto.

Geralmente dois trabalhadores (antes monitores, agora educadores) e, com sorte um profissional de cozinha dão conta de todas as tarefas do abrigo, de atendimentos médicos, pricológicos na rede pública à escola, escalas de tarefas, higiene, disciplina. Limites para quem nunca teve limites, afeto para quem não está acostumado com afeto, escola, temas, conversas, conversas e mais conversas.

A bagagem de cada acolhido nestses abrigos é geralmente cruel. São estórias de abandono, de maus tratos, de abusos, de desamor.

Mas o abrigo deve ser passageiro. O trabalho deve ser feito não só com o abrigado, mas com as famílias, que precisam se organizar para retomar os vínculos com seus filhos, ou sobrinhos, ou afilhados. Por mais confortável que um abrigo pudesse ser, nada como a casa de cada um deles, e isto é verbalizado.

Enfim, mesmo com o avanço dos programas sociais, não basta acolher a criança ou o adolescente e mantê-lo no abrigo. Porque os 18 anos chegam rápido, e aí? São muitos os casos em que os adolescentes desligados não conseguem desinstitucionalizar-se, e ficam vivendo às voltas dos abrigos, a família que lhes foi possível.

Por isto, a maior urgência é o acompanhamento das famílias, para trabalho, para programas sociais, para reestruturação. E isto pouco ou nada depende dos trabalhadores de dentro dos abrigos.

De certo, só que enquanto continuar o sistema capitalista com sua crueldade e desigualdade, continuarão a existir abrigos, abrigados e exclusão de crianças, adolescentes e suas famílias.
 

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