Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, no encalço. Amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. G. Rosa

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Borboletas de Zagorsk

 Borboletas de Zagorsk é um documentário produzido pela BBC em 1992 que trata do trabalho desenvolvido em uma escola russa com crianças surdas e cegas inspirado nos estudos de Lev Vygotsky. A obra tem 40 minutos de duração e se passa na cidade de Zagorsk, a 80 km de Moscou.

Em seus estudos sobre a defectologia, Vygotski traz a ideia da compensação segundo a qual as pessoas com deficiência utilizam seus sentidos sadios para compreenderem o mundo, isto é, desenvolver seus sentidos normais para compensarem seus sentidos perdidos ( visão, audição, etc. )

O documentário reforça a importância da mediação e a crença de que todas as pessoas, independente da idade e da condição física ou intelectual, são capazes de aprender. Concepção esta também retratada na teoria da Modificabilidade Cognitiva Estrutural do educador Romeno Reuven Feuerstein. Com a conhecida frase: "Não me aceite como eu sou", Feuerstein desafia o educador a planejar e propor ações que possibilitem ao sujeito relacionar-se com seus pares, sem que esta relação seja permeada pelo atributo da incompetência por acreditar que não se pode prever, nunca limites para o desenvolvimento humano.

Borboletas de Zagorsk é a evidência disso.













Texto Vídeo 2


Em seu apartamento em Moscou Yuri e Natasha conversam. Os dois falam a língua de sinais, mas Natasha é que é surda e cega. Sua estranha voz de passarinho foi causada por uma doença que danificou suas cordas vocais quando ela tinha nove anos. Natasha segue surda desde criancinha, mesmo assim hoje ela é mãe, filósofa e psicóloga de profissão, ela é um produto do notável sistema de ensino de Zagorsk.

Natasha: É claro que em Zagorsk eu me senti mais livre e feliz que em casa pois podia me comunicar com os professores, as crianças e a equipe que trabalhava lá. Em Zagorsk também me ajudaram muito a compreender a idéia confusa que eu fazia do mundo na época. Não foi um processo agradável e me recordo com gratidão da paciência dos professores que realizam esse trabalho, hoje e em épocas passadas. Como resultado eu passei lentamente a compreender tudo direito, o que me ajudou a agir corretamente no mundo a minha volta.

Natasha tinha treze anos quando foi para Zagorsk e foi apresentada a uma forma de ensino inspirada pelo psicólogo russo Lev Vygotsky.

Natasha: Vygotsky mudou minha vida quando era estudante, suas idéias eram força motriz da psicóloga soviética.

Foi Vygotsky quem há 68 anos disse que mesmo crianças gravemente deficientes poderiam ser transformadas em adultos inteligentes. Vygotsky morreu em 1934, mas Natasha e seu marido se dedicaram a divulgar suas idéias. Quando na adolescência Natasha dominou a linguagem de sinais, o mundo mudou para sempre. Ela escreveu um poema que celebra seu triunfo contra a solidão e o isolamento: Dê-me tua mão que eu te direi quem és. Em minha silenciosa escuridão, mais claro que um ofuscante sol, está tudo que desejarias ocultar de mim. Mais que palavras tuas mãos me contam tudo que recusavas dizer. Sementes de ansiedade ou trêmulas de fúria, verdadeira amizade ou mentira, tudo se revela ao toque de uma mão, quem é estranho, quem é amigo. Tudo vejo em minha silenciosa escuridão. Dê-me tua mão que te direis quem és.

Natasha e Yuri se dirigem para o lar em Zagorsk em que ela passou a infância, foi lá que ela obteve acesso a universidade e decidiu tornar-se psicóloga.

Natasha: escolhi a especialização em psicologia infantil porque eu queria ajudar crianças na mesma situação da qual escapei. Eu achava que quando eu entendesse o misterioso processo de formação da psicologia humana, eu seria capaz de ajudar as crianças a evitar um período amargo e doloroso pelo qual eu tive de passar na minha educação. Como meus professores conseguiam enxergar e ouvir, eles nem sempre eram capazes de me entender corretamente.

Hoje as crianças de Zagorsk recebem a visita de um clube jovem de Moscou, o que tem um líder extraordinário. Sasha, o ex aluno de Zagorsk é surdo e cego. Para as crianças daqui Sasha é um herói, um exemplo. Há treze anos como parte de uma ousada experiência educacional, ele foi um entre quatro estudantes de Zagorsk a se formar na universidade de Moscou. O amigo de Sasha, Yiuri, formou-se na mesma época. Yuri e Sasha vêm para cá regularmente ensinar e incentivar as crianças a seguir seus passos. Mas para estes estudantes será difícil. A experiência de 1977 não deve ser repetida nos anos noventa. Os recursos diminuíram e a vontade política também. Natasha e Yuri visitam a casa de Zagorsk para dar aulas de inglês para estudantes mais velhos. Para Oksana Natasha é uma heroína especial, elas têm muito em comum, ambas são da Ucrânia, ambas adoram poesia e ambas sabem como é ficar cega e surda na infância.

Natasha: Olá Oksana, estava esperando por você, eu sabia que você viria.

Belova, a mais antiga professora de Zagorsk está aqui há trinta anos, as crianças, suas alunas, são portadoras de surdez grave, mas conseguem ouvir sua voz quando muito amplificada. Ela sempre se comunica de várias formas ao mesmo tempo, pela linguagem de sinais, pela fala e pelas vibrações da caixa de voz.

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