Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, no encalço. Amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. G. Rosa

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Vicença e eu. causo popular.

Quando sortêro vivia

Era o maior aperrêio

Que além d’eu ser muito feio,

Ar muié não me queria.

Prá toda banda que eu ia com o camarada meu,

Ele confiava n’eu,

Ia beber e jogar, fazer bagunça e brigar

E quem ia preso era ieu.

Pra mode arranjar namoro

Era danado de mole

Cantava tocava fole

E tinha uns cabelo loro,

A boca cheia de ouro,

Quilara que só o dia.

Em todas festas que havia,

Cheirava que nem uma rosa

Mas quando falava em prosa,

Ar muié num me queria.

Eu disse: foi catimbó que arguém boto num sai.

Mamãe casô com papai,

Vovô casô com vovó

Inté meu irmão Chico,

Muito mais feio do que ieu,

Namorô, casô viveu com duas muié inté

Só eu não arranjo uma que queira se esfregar n’eu?

Mas Deus do céu se descuidou-se

Satanás se esqueceu

E Vicença me apareceu com seus oião de bico-doce

E nosso amor misturou-se Cuma feijão com arroz,

E se atraquemo num amor tão violento,

Que tratemo o casamento pra quatro dia dispois.

No dia de se casar, quase que se endoideço por ela,

Dei de garra na mão dela e fumo pra igreja casar

Quando cheguemo no artar,

O padre falou umas coisa,

Jurei em nome da crença ser fiel a esposa

O padre botou a benção e eu fui drumi com Vicença.


Numa casinha bem singela fui logo me agasalhando

Pois já estava pensando em drumi com uma costela.

Mas vicença fez uma novela la dentro da camarinha

Quebrou todos caquinhos que tinha,

Ameaçou-me na bala

Que tive de drumi na sala

E ela lá na cozinha.

Quase morro de desgosto pro que Vicença fez isso,

De manhã fui pro seuviço

E voltei com o sol quase posto.

Mas inda tive um gosto:

Vicença me arrecebeu inté café freveu

E boto pra nóis tomar.

Mas quando foi se deitar,

Nem se quer olhou pra eu...

Da vida perdi a crença,

De nomes chamei bem uns trinta

Botei a faca na cinta e fui falar com Vicença.

Ela deu a doença quando falei de amor.

Foi logo me dizendo:

-O senhor pensa o que? Eu só casei com ocê foi pra fazer favor...

Larguei Vicença no chão,

Abrir ligeiro a casaca,

Puxei a lapa da faca

Torei da calça o cordão.

Vicença tinha razão pelo que se assucedeu

Não era pru nojo e nem pru não ser sincera

Quere saber pro que era?

Vicença era macho que nem eu.