Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, no encalço. Amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. G. Rosa

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sobre o Tempo, escreveu o meu amigo Helder:

Oh! TEMPO !!!!!




Que o tempo “passa depressa” todos nós sabemos, uns de forma cruel ao atingirem o fim da linha, outros em estado paulatino deixando “correr o tempo”, que é, como quem diz, “te preocupes ou não, o tempo passa na mesma”, 24 horas serão sempre 24 horas, ainda que possam ter mais uns segundos ou menos conforme os caprichos dos astros (ops, reparei agora que fiz uma frase mais longa que o habitual, deve ser por andar a ler o Caim do Saramago).

O tempo foi sempre um factor de importância fundamental na vida das pessoas, especialmente porque permite entabular interessantes e culturais conversas nos elevadores, quando a pessoa que entra, se encosta a um dos lados e se põe a olhar fixamente para a ponta dos pés, não se sabendo, se não usarmos o tempo como tema de degelo, se o companheiro ou a inesperada companheira de viagem ascendente – pode também ser descendente, mas prefiro a primeira – se ela baixou a cabeça por um passageiro acesso de timidez, ou se, menos prosaicamente, se deu conta de que tem os sapatos sujos.

A propósito de ascensores, elevadores ou lá o que são aquelas maquinetas imprevisíveis que nos podem deixar entalados entre dois pisos por mais de uma meia-hora, isto quando se tem sorte, há algo que me irrita solenemente e me faz “trepar” às paredes - nem que sejam do elevador - e que é quando o companheiro de viagem, ao entrar desajeitadamente no PISO ZERO com a mochila às costas, mala de computador numa mão e o telemóvel na outra, me pergunta delicadamente: “vai subir?”. Dá-me vontade de responder: “sim, sim, para cima”. Disfarço o desconforto. A única resposta que sou capaz de dar é ficar a olhar para o relógio e cronometrar os dolorosos segundos que a geringonça vai demorar a subir até ao destino de um dos dois. Seja qual for a medição, será sempre uma eternidade.

O tempo, sempre o tempo.

Por vezes, vem o tão tradicional quanto maior lugar-comum do mundo, na forma de conversa meteorológica: “parece que vai chover, o tempo está estranho”. Mas porque pecados terei eu que me preocupar com o raio desse tempo, se até estou fechado numa caixa de metal a resfolegar numa subida que nunca sei se terá final? Às vezes gostaria que não parasse, que fosse por aí acima e o meu relógio salvador de situações embaraçosas parasse e me ajudasse a esquecer a velocidade do tempo. É óbvio que o relógio pode parar as vezes que lhe der na real gana de máquina dependente duma pilha hermafrodita que não distingue o pólo positivo do negativo. Mas enfim. Todos os relógios do mundo podem parar, deixar de funcionar, ficarem mudos e quedos, não será por isso que o tempo pára. O que reforça a inutilidade do tema daquela famosa canção “Oh tempo, volta pra trás”.

O que é o tempo? Santo Agostinho, no ano 400, escreveu nas suas Confissões o seguinte: “Que é o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? (...) Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos; compreendemos também o que nos dizem quando nos falam dele. Que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”

Angustia-me esta filosófica questão do tempo. Não o de “A Chuva e o bom tempo” do Jacques Prévert que, num dos seus habituais desafios ao bom senso preguiçoso, escreveu : “ j’ai pensé parfois mettre fin à mês jours, mais je n’ai pas su par lequel commencer” (pensei por vezes por fim aos meus dias mas não soube por qual deles começar). Não acompanho Prévert nessa ideia de ter pensado dar um fim aos meus dias (coitadinhos) sabendo de antemão que não saberia por qual deles começar. Isso seria, quiçá, querer protelar qualquer coisa, ganhar tempo, ou, simplesmente, lançar uma “boutade” e esperar as reacções. Além do mais, os meus dias fazem-me falta e quero vivê-los em todas as suas 24 horas.

Para isso confio nos relógios, nos pêndulos, nos metrónomos, nos tempos musicais, e em quaisquer outras formas de medir tempo. E até nem me preocupo nada em saber se cada minuto é igual ao outro, se cada um tem os mesmos sessenta segundos - se um não terá mais uns centésimos do que outro – e até me estou marimbando para o “isocronismo das oscilações do tempo” descoberto pelo amigo Galileu. Lembram-se ? Aquele teimoso que, mesmo condenado pela Igreja (nos idos do séc. XVI) por defender a teoria do heliocentrismo, segundo a qual a terra move-se em torno do Sol, reiterou, ainda que timidamente: “Eppur si muove”.

Me parece cada vez mais plausível a ideia de que nos andamos a enganar uns aos outros das mais variadas formas, usando os mais diversos meios. Não me refiro aos políticos que, esses, são naturalmente enganadores profissionais. São especialistas em “ganhar tempo”. Os mais chegados, os amigos até, aqueles que gostam de nos convencer de coisas que não têm verdadeiro suporte. Ou sou eu que não vislumbro onde eles querem chegar quando me dizem: “Eh pá, tás com bom aspecto, o tempo não passa por ti !!!”.

Não passa porque me entra por aqui a dentro, entranha-se pelos poros, instala-se soberano e provocador, desgasta por aqui, por ali. Deixar de usar relógio não resolve nada como já se viu mais atrás, o tempo não pára.

Há paliativos, lá isso há. Aqueles comprimidos. Os “health clubs”, botox não gosto, quando muito uma ida ao cirurgião plástico para esticar umas peles, não muito para não levantar a perna quando rir, ajudam a crer que “retardam o tempo”. Suspeito que é mais psicológico do que fisiológico.

“O tempo não passa por ti”. Pois, pois !!!!!! Tábem!!!

Vale o inesgotável Carlos Drummond de Andrade para me tirar das angústias, das incertezas, das dúvidas, no seu poema O TEMPO PASSA? NÃO PASSA, quando diz:


Não há tempo consumido


Nem tempo a economizar.


O tempo é todo vestido


De amor e tempo de amar.



Helder de Sousa

imagem de Mariliza Silva

Que bacana Sr Catazuca! Adorei...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Filosofia e Meio Ambiente

Enquanto a fraternidade expressa a dignidade de todos os homens considerados iguais e assegura-lhes plenos direitos sociais, políticos e individuais, a idéia de caridade cria uma desigualdade ainda mais abissal

Nelson Tembra

Em plena época da Conferência Climática COP-15, a idéia de fraternidade é a peça-chave para a plena configuração da cidadania entre os homens, pois, por princípio, todos os homens são iguais, pelo menos deveriam ser. De uma certa forma, a fraternidade é dependente da liberdade e da igualdade, pois, para que cada uma efetivamente se manifeste é preciso que as demais sejam válidas.


A fraternidade é expressa no primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem que afirma que "todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.


Marcado para revisão devido a inconsistências práticas e exemplos históricos passados e contemporâneos de confiabilidade duvidosa, o substantivo feminino “fraternidade” é um conceito da investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo e ao homem, ligado às idéias de autonomia e espontaneidade e a inexistência de desvios ou incongruências, sob determinado ponto de vista, entre dois ou mais elementos comparados.


Na prática, a fraternidade tem sido frequentemente confundida pelo mau cidadão comum, pelo mau governante e pelo mau gestor empresarial com a expressão “caridade”, que expressa um sentimento ou uma ação altruísta de ajudar o próximo sem buscar qualquer tipo de recompensa; e a expressão “solidariedade”, que expressa um sentimento ou união de simpatias, interesses ou propósitos entre os membros de determinado grupo, embora essas palavras tenham significados radicalmente diferentes.


Enquanto a fraternidade expressa a dignidade de todos os homens considerados iguais e assegura-lhes plenos direitos sociais, políticos e individuais, a idéia de caridade cria uma desigualdade ainda mais abissal, na medida em que faz crer que alguns deles possuam mais direitos e sejam superiores e portanto “generosos” quando compartilham algumas “migalhas” com os demais.


Infelizmente nem todos ou poucos são dotados de razão e de consciência conforme expresso no primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, embora de todas as liberdades, a mais inviolável seja a de pensar...


VEJA ESTE DOC.  HISTÓRIA DAS COISAS

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

MAIS SOBRE GRIPE A -EUA recusam vacina para gripe A usada na Europa

Sem comentários. Saíu esta notícia. Cada um que se decida.


por JOÃO CÉU E SILVA. Hoje ( Diário de Notícias).
A vacina que está a ser usada em Portugal contra a gripe A não foi aprovada pelos Estados Unidos por conter substâncias na sua composição que podem alegadamente causar danos à saúde dos que a tomam. Trata-se da Pandemrix, vacina aprovada pela Organização Mundial da Saúde e escolhida pela Agência Europeia do Medicamento para ser usada em todos os Estados membros. E em relação à qual o Infarmed garante terem sido feitos todos os testes de qualidade.

No entanto, a Pandemrix está a provocar a recusa de muitas pessoas na Alemanha da sua utilização, dando como justificação o facto de os políticos e os funcionários públicos de topo serem preventivamente vacinados com uma outra. O presidente do Colégio Alemão dos Médicos de Família refere mesmo que os "potenciais riscos ultrapassam os benefícios" e, segundo Michael Kochen, este é um "teste em larga escala feito à população alemã" enquanto o Ministério da Saúde veio a público esclarecer que a Pandemrix não tem efeitos secundários mais graves que a vacina alternativa. Segundo o secretário de Estado da Saúde, Klaus Schroeder, foram encomendadas 50 milhões de doses de Pandemrix e não de outro preparado, porque pode ser produzida quatro vezes mais rapidamente do que a Cevalpan. Refira-se que 22 Governos europeus já encomendaram 440 milhões de Pandemrix.

Em Portugal, membros dos grupos prioritários recusaram a vacinação, designadamente políticos e a classe médica. Ontem, o presidente da Associação Portuguesa de Bioética, Rui Nunes, considerou que a recusa de médicos e de outros profissionais de saúde deve ser aceite com "prudência e bom-senso" porque acha esta reserva "natural" quando se trata de profissionais que "estão mais envolvidos no meio; sabem mais do ponto de vista técnico/científico o que se passa e sabem que não há ainda resultados verdadeiramente sólidos que permitam determinar com clareza se a pessoa deve ser vacinada".

Nos EUA, a Pandemrix não foi aprovada porque contém uma substância, o escaleno, que alegadamente provoca a alteração do sistema imunitário. Vários estudos ligaram os seus efeitos à síndrome da Guerra do Golfo porque terá sido utilizado como adjuvante na vacina do antrax (ler coluna ao lado). O que está em causa nesta vacina, segundo os seus detractores, são dois componentes que se encontram tanto na própria vacina como no adjuvante que lhe é adicionado para aumentar os efeitos.

Apesar de a vacina da GlaxoSmithKline (GSK) estar em conformidade com as regras europeias da Organização Mundial de Saúde (OMS), ela contém, segundo a informação que esteve no site da farmacêutica até ontem a meio do dia, cinco microgramas de tiomersal - na vacina - e 10, 69 miligramas de escaleno - no adjuvante -, cujos efeitos secundários são polémicos e considerados insuficientemente testados nos seres humanos. Estes dois produtos são necessários para potenciar os efeitos da vacina de modo a que a já gigantesca produção do medicamento satisfaça a procura em menos tempo de produção. O escaleno reduz o tempo da cultura de vírus inactivos e o tiomersal permite utilizar o sistema da multidose.

A preocupação da OMS perante os riscos das vacinas para a H1N1 é tão grande que responsabiliza as autoridades médicas nacionais para os alegados riscos e benefícios das vacinas disponíveis antes de as licenciarem, porque "quando vacinas pandémicas são administradas a tantos milhões de pessoas pode não ser possível identificar situações raras". Aconselha a monitorização intensa e comunicação imediata dessas situações e a troca a nível mundial desses dados.

A GSK, contactada pelo DN, considera que no caso do escaleno "não existem estudos conclusivos que permitam estabelecer relação entre causa e efeito" e confirma que a substância permite "com menos fazer mais" porque é um "amplificador de sinal". No caso do tiomersal, refere que "a pequena dose de mercúrio de 25 microgramas" não "induz malformações no sistema nervoso dos bebés nem ameaça o de-senvolvimento dos embriões" e que está muito abaixo do "limite aceitável para as grávidas de 60 kg, que é de 96 microgramas".

O Infarmed - a Autoridade Nacional do Medicamento - confirma que as duas substâncias encontram-se na Pandemrix, mas que "as afirmações sobre o tiomersal e o escaleno não são, de facto, nem correctas nem verdadeiras". Esclareceu ao DN que a vacina foi aprovada por "procedimento centralizado" - pela Agência Europeia do Medicamento - e que ficou homologada para todos os Estados membros.

O Infarmed informa, também, que "durante o processo de avaliação foram ponderados todos os aspectos relativos à qualidade, segurança e eficácia de um medicamento, sendo estabelecida uma relação benefício-risco. Na situação em apreço, o benefício foi considerado superior ao risco, razão pela qual a Agência Europeia emitiu uma posição favorável à autorização do medicamento".

LIBERTADORES DAS AMÉRICAS: NÓS VAMOS.


quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Sobre a epidemia da gripe H1N1

Recebi este link de uma jornalista português, amigo de tempos antigos. Helder Souza é o nome dele. Pessoa finíssima da melhor qualidade e um profissional sério.
Eu o conheci quando em 1999 ele veio fazer a cobertura do Rali dos Sertões.
Atualmente ele está fazendo um trabalho jornalístico em Angola, onde fez a cobertura da Guerra civil, no início dos anos 70.
Ele me manda este vídeo que tem corrido  muitos países Europeus. É realmente preucupante imaginar que seja verdade tudo que contém esta entrevista.
Mas depois do holocausto, não podemos desacreditar totalmente das coisas. O bicho homem é capaz de tudo. Vejam e tirem suas próprias conclusões.

http://www.youtube.com/watch?v=JpOB4xkpjgQ

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Direitos humanos e direitos da natureza? Texto do Eduardo Galeano

Os direitos humanos não surgiram no início dos tempos, como se pode imaginar. Eles são um dos produtos do iluminismo, algo ainda recente na história humana. Hoje, as corporações também têm "direitos humanos", como se fossem pessoas - o que alguns consideram uma das grandes aberrações da modernidade, causa de muitos males que vivenciamos.Vale a pena ver o filme "The Corporation" . Se discute também os "direitos animais", principalmente na pesquisa científica e industrial, em especial de produtos cosméticos. Mas e os direitos da natureza? A natureza deve ter direitos? É isso que está sendo discutido na elaboração da nova Constituição do Equador. A coisa é mais interessante do que parece. Veja abaixo um belo texto do Galeano.

A natureza não é muda

Eduardo Galeano

Brecha (semanário uruguaio)

O Equador está discutindo uma nova Constituição. Entre as propostas, abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história, os direitos da natureza. Parece loucura querer que a natureza tenha direitos. Em compensação, parece normal que as grandes empresas dos EUA desfrutem de direitos humanos, conforme foi aprovado pela Suprema Corte, em 1886.

O mundo pinta naturezas mortas, sucumbem os bosques naturais, derretem os pólos, o ar torna-se irrespirável e a água imprestável, plastificam-se as flores e a comida, e o céu e a terra ficam completamente loucos.

E, enquanto tudo isto acontece, um país latino-americano, o Equador, está discutindo uma nova Constituição. E nessa Constituição abre-se a possibilidade de reconhecer, pela primeira vez na história universal, os direitos da natureza.

A natureza tem muito a dizer, e já vai sendo hora de que nós, seus filhos, paremos de nos fingir de surdos. E talvez até Deus escute o chamado que soa saindo deste país andino, e acrescente o décimo primeiro mandamento, que ele esqueceu nas instruções que nos deu lá do monte Sinai: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".

Um objeto que quer ser sujeito

Durante milhares de anos, quase todo o mundo teve direito de não ter direitos.

Nos fatos, não são poucos os que continuam sem direitos, mas pelo menos se reconhece, agora, o direito a tê-los; e isso é bastante mais do que um gesto de caridade dos senhores do mundo para consolo dos seus servos.

E a natureza? De certo modo, pode-se dizer que os direitos humanos abrangem a natureza, porque ela não é um cartão postal para ser olhado desde fora; mas bem sabe a natureza que até as melhores leis humanas tratam-na como objeto de propriedade, e nunca como sujeito de direito.

Reduzida a uma mera fonte de recursos naturais e bons negócios, ela pode ser legalmente maltratada, e até exterminada, sem que suas queixas sejam escutadas e sem que as normas jurídicas impeçam a impunidade dos criminosos. No máximo, no melhor dos casos, são as vítimas humanas que podem exigir uma indenização mais ou menos simbólica, e isso sempre depois que o mal já foi feito, mas as leis não evitam nem detêm os atentados contra a terra, a água ou o ar.

Parece estranho, não é? Isto de que a natureza tenha direitos... Uma loucura. Como se a natureza fosse pessoa! Em compensação, parece muito normal que as grandes empresas dos Estados Unidos desfrutem de direitos humanos. Em 1886, a Suprema Corte dos Estados Unidos, modelo da justiça universal, estendeu os direitos humanos às corporações privadas. A lei reconheceu para elas os mesmos direitos das pessoas: direito à vida, à livre expressão, à privacidade e a todo o resto, como se as empresas respirassem. Mais de 120 anos já se passaram e assim continua sendo. Ninguém fica estranhado com isso.

Gritos e sussurros

Nada há de estranho, nem de anormal, o projeto que quer incorporar os direitos da natureza à nova Constituição do Equador.

Este país sofreu numerosas devastações ao longo da sua história. Para citar apenas um exemplo, durante mais de um quarto de século, até 1992, a empresa petroleira Texaco vomitou impunemente 18 bilhões de galões de veneno sobre terras, rios e pessoas. Uma vez cumprida esta obra de beneficência na Amazônia equatoriana, a empresa nascida no Texas celebrou seu casamento com a Standard Oil. Nessa época, a Standard Oil, de Rockefeller, havia passado a se chamar Chevron e era dirigida por Condoleezza Rice. Depois, um oleoduto transportou Condoleezza até a Casa Branca, enquanto a família Chevron-Texaco continuava contaminando o mundo.

Mas as feridas abertas no corpo do Equador pela Texaco e outras empresas não são a única fonte de inspiração desta grande novidade jurídica que se tenta levar adiante. Além disso, e não é o menos importante, a reivindicação da natureza faz parte de um processo de recuperação das mais antigas tradições do Equador e de toda a América. Visa a que o Estado reconheça e garanta o direito de manter e regenerar os ciclos vitais naturais, e não é por acaso que a Assembléia Constituinte começou por identificar seus objetivos de renascimento nacional com o ideal de vida do sumak kausai. Isso significa, em língua quechua, vida harmoniosa: harmonia entre nós e harmonia com a natureza, que nos gera, nos alimenta e nos abriga e que tem vida própria, e valores próprios, para além de nós.

Essas tradições continuam miraculosamente vivas, apesar da pesada herança do racismo, que no Equador, como em toda a América, continua mutilando a realidade e a memória. E não são patrimônio apenas da sua numerosa população indígena, que soube perpetuá-las ao longo de cinco séculos de proibição e desprezo. Pertencem a todo o país, e ao mundo inteiro, estas vozes do passado que ajudam a adivinhar outro futuro possível.

Desde que a espada e a cruz desembarcaram em terras americanas, a conquista européia castigou a adoração da natureza, que era pecado de idolatria, com penas de açoite, forca ou fogo. A comunhão entre a natureza e o povo, costume pagão, foi abolida em nome de Deus e depois em nome da civilização. Em toda a América, e no mundo, continuamos pagando as conseqüências desse divorcio obrigatório.

Publicado originalmente no semanário Brecha, do Uruguai.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Fonte:

Agência Carta Maior (23/04/2008): CARTA MAIOR

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Dia Mundial de Luta contra Aids é marcado por combate ao preconceito




Criado em outubro de 1987 pela Organização das Nações Unidas (ONU), diante do crescimento acelerado do número de casos de pacientes soropositivos no mundo, o Dia Mundial de Luta Contra Aids, comemorado nesta terça-feira (1º de dezembro), traz a cada ano um tema que cerca a doença. O deste ano é dizer não ao preconceito.




No Brasil, o slogan adotado pelo Ministério da Saúde é: "Viver com a Aids é possível. Com o preconceito não." Mais do que um dia para lembrar a existência de milhares de infectados no mundo, a data serve para colocar em debate questões como transmissão, acesso gratuito aos medicamentos e prevenção, além de reforçar aspectos como solidariedade, tolerância, compaixão e compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV.



A escolha dessa data seguiu critérios próprios das Nações Unidas e passou a ser lembrada no Brasil a partir de 1988.





Segundo relatório da ONU "Atualização da Epidemia de Aids-200" lançado, na última semana, pelo Unaids e pela OMS, o maior acesso a antiretrovirais e coquetéis ajudou a reduzir a mortalidade por Aids em mais de 10% em termos globais nos últimos cinco anos. O número de novas infecções caiu 17% nos últimos oito anos.



De acordo com a OMS, quase 34 milhões de pessoas no mundo são portadoras do HIV, sendo que 2,7 milhões de novas infeçcões ocorrem a cada ano. Embora os dados mundiais mostrem avanços, como a redução no número de infeçcões, a diminuição do número de crianças que nascem com o vírus, e o tratamento para mais de 4 milhões de pessoas, no Brasil, o dados ainda são preocupantes e demonstram que houve um retrocesso em relação aos anos anteriores.



Aids no Brasil



Segundo o Ministério da Saúde, de 1980 a junho de 2007 foram notificados 474.273 casos de Aids no País ?-289.074 no Sudeste, 89.250 no Sul, 53.089 no Nordeste, 26.757 no Centro Oeste e 16.103 no Norte.



Segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem uma epidemia concentrada, com taxa de prevalência da infecção pelo HIV de 0,6% na população de 15 a 49 anos. Em 2006, considerando dados preliminares, foram registrados 32.628 casos da doença. Em 2005, foram identificados 35.965 casos, representando uma taxa de incidência de 19,5 casos de Aids a cada 100 mil habitantes.



O Boletim Epidemiológico de 2007 trouxe, pela primeira vez, dados sobre a proporção de pessoas que continuaram vivendo com Aids em até cinco anos após o diagnóstico. O estudo foi feito com base no número de pessoas identificadas com a doença em 2000.



Os dados apontaram que, cinco anos depois de diagnosticadas, 90% das pessoas com Aids no Sudeste estavam vivas. Nas outras regiões, os percentuais foram de 78%, no Norte; 80%, no Centro Oeste; 81%, no Nordeste; e 82%, no Sul.



A análise mostra, ainda, que 20,5% dos indivíduos diagnosticados com Aids no Norte haviam morrido em até um ano após a descoberta da doença. No Centro Oeste, o percentual foi de 19,2% e no Nordeste, de 18,3%. Na região Sudeste, o indicador cai para 16,8% e, no Sul, para 13,5%.



média do Brasil foi de 16,1%. Em números absolutos, o Brasil registrou 192.709 óbitos por Aids, de 1980 a 2006. Um balanço da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, divulgado recentemente mostra que a taxa de infectados no Estado subiu depois de 1995. O número de mortes em 2008 foi de 8,2 por 100 mil habitantes, contra 8 por 100 mil no ano anterior.



Só em São Paulo morrem cerca de 3.300 soropositivos por ano. No último levantamento feito no país, foram identificados 314.294 casos de Aids em homens e 159.793 em mulheres. Ao longo do tempo, a razão entre os sexos vem diminuindo de forma progressiva. Em 1985, havia 15 casos da doença em homens para 1 em mulher. Hoje, a relação é de 1,5 para 1.



Na faixa etária de 13 a 19 anos, há inversão na razão de sexo, a partir de 1998. Em ambos os sexos, a maior parte dos casos se concentra na faixa etária de 25 a 49 anos. Porém, nos últimos anos, tem-se verificado aumento percentual de casos na população acima de 50 anos, em ambos os sexos.




Para o coordenador do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids - Unaids no Brasil, Pedro Chequer, os dados ainda preocupam: "Há necessidade de uma reflexão profunda do ponto de vista de políticas públicas para que possamos enfrentar o problema. O Brasil iniciou um trabalho pioneiro nessa área, desevolve um programa avançado com a participação intensa da sociedade civil, e o que é mais importante, sempre trabalhou o tratamento e a prevenção de uma forma equilibrada, mas os esforços não tem sido suficientes para resolver o problema", afirmou.



Entre as prioridades para 2009, o Unaids destacou a prevenção da morte de mães e bebês infectados; a garantia de que pessoas que vivem com o vírus recebam tratamento; o combate às mortes de soropositivos provocadas pela tuberculose; o fim da violência contra mulheres e meninas; o empoderamento (tradução da palavra inglesa empowerment, que significa dar poderes de decisão, participação e autonomia a uma pessoa) de jovens para que se protejam contra a doença; e o fortalecimento de uma rede de proteção social para pessoas infectadas.

Para saber mais sobre o trabalho do UNAIDS, visite o site da instituição: http://www.unaids.org/