Amizade nossa ele não queria acontecida simples, no comum, no encalço. Amizade dele, ele me dava. E amizade dada é amor. G. Rosa

terça-feira, 2 de março de 2010

Eles enlouqueceram!

Conta Jon Meacham, no imperdível “Franklin e Winston”, que logo depois de reeleito pela segunda vez, no final de 1940, certa noite na Casa Branca o presidente americano cuidava de redigir sua mensagem de fim de ano. Mostrava para Harry Hopkins notas tomadas durante o dia, quando, de um só fôlego, ditou: “Precisamos buscar um mundo baseado nas quatro liberdades essenciais do ser humano.

1.A primeira é a liberdade de expressão – no mundo inteiro.

2.A segunda é a liberdade de adorar a Deus, cada um à sua maneira – no mundo inteiro.

3.A terceira é a liberdade de não passar necessidade, que, traduzida em termos mundiais, significa a compreensão econômica que assegurará a todos os países uma vida sadia em tempo de paz para todos os seus habitantes.

4.A quarta é a liberdade de não ter medo, que traduzida em termos internacionais significa uma redução mundial de armamentos a tal ponto e de modo tão completo que nenhum país possa cometer um ato de agressão física contra qualquer vizinho.

O Ideal de Roosevelt foi invertido. Hopkins, tão amigo quanto assessor principal, questionou Franklin Roosevelt pela repetição da expressão “no mundo inteiro”, acentuando: “É muito território, senhor presidente. Não sei até que ponto o povo americano terá interesse no povo de Java…”

Resposta: “Acho que terá de fazê-lo um dia, Harry, porque o mundo está ficando tão pequeno que até o povo de Java será nosso vizinho.”

Por que se conta essa história? Porque o mundo imaginado por Roosevelt parece ter virado de cabeça para baixo. Tomem-se as quatro liberdades fundamentais. Nos Estados Unidos, por pressão do governo ou por adesão da mídia, a opinião pública está impedida de assistir às imagens do desembarque permanente de seus soldados trazidos para casa, do Iraque ou do Afeganistão, em esquifes cobertos pela bandeira americana.

Também são negadas à sociedade informações a respeito dos mutilados, desertores e até dos que perdem o juízo em meio ao horror dessa invasão fracassada. Pelo menos, era diferente nos tempos da guerra do Vietnã.

A liberdade de religião torna-se cada vez mais estreita e vigiada, tendo em vista os atos de loucura praticados por pequena minoria de muçulmanos, mas punindo a totalidade dos que seguem as lições de Maomé.

A religião islâmica, hoje, é criticada e posta sob suspeição até pelo papa. Quanto à liberdade de não passar necessidade, a tal compreensão econômica, basta verificar a extensão da fome e da miséria alastradas não apenas em continentes distantes, mas nos becos de Nova York, Chicago, São Francisco.

Dois bilhões de seres humanos acordam hoje sem saber se vão almoçar. Americano é conivente com Bush.

Da liberdade de não ter medo, que seria estimulada pela redução mundial de armamentos, nem é preciso falar. Buscam impedir, e com toda razão, que a Coréia do Norte, o Irã e outras nações construam bombas atômicas, mas não deixam de aperfeiçoar a cada dia seu arsenal nuclear pleno de mísseis inteligentes e aviões invisíveis para destruir mais em menor tempo.

Os americanos enlouqueceram? Porque não engana ninguém o argumento de que o povo está inocente e vem sendo enganado por seus governantes. Já disseram isso de Hitler, na Alemanha, como andam dizendo de Bush, mas sem a mesma intensidade.

Ele não seria presidente, mesmo tendo perdido agora as eleições parlamentares, caso não contasse com a conivência de seu povo. E nós, nos trópicos, como estamos diante das quatro liberdades essenciais ao ser humano? Claro que, sob certo aspecto, um pouco melhor do que os irmãos lá de cima.

O governo de quando em quando ensaia investidas contra a imprensa, mas, ao menos até agora, sem sucesso. Da mesma forma em matéria de religião, pois as nossas convivem pacificamente. Como no caso de armas, porque felizmente carecemos de recursos para aplicar até no mínimo necessário.

Mas a respeito das necessidades básicas do cidadão, valha-nos Deus. O Bolsa Família, mais do que louvável, cresce em proporção aritmética, ao tempo em que a fome, a miséria, a doença e o desemprego crescem em proporção geométrica. Enlouquecemos por aqui também?
Sebastião Neri –

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